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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Anúncio Antigo 27: o papa recomenda a marca FIAT




É muito difícil ver um papa renunciar, como ocorre agora com Bento XVI. Mais difícil ainda é ver uma declaração do papa em um anúncio publicitário. Bem, tratando-se de automóveis da marca FIAT é até compreensível, pois ambos têm uma relação muito forte com a Itália. A maior parte dos papas que comandaram a Igreja Católica, desde o tempo de Pedro (o primeiro papa) no século I d.C., tiveram origem na península italiana. Já a "Fabbrica Italiana Automobili Torino" ou simplesmente FIAT (que em latim também significa "faça-se") é um verdadeiro símbolo da indústria daquele país e uma das maiores fábricas de automóveis do mundo. 
A indústria foi fundada por Giovanni Agnelli em 1899. Seu neto, Gianni Agnelli comandou a empresa de 1966 até a sua morte em 2003. Seu irmão, Umberto, assumiu o controle da empresa por mais um ano até a ascensão de Luca de Montezemolo. Aliás, este também responde por um outro símbolo da indústria italiana, a Ferrari, que pertence ao grupo FIAT, da mesma forma que a Alfa Romeo, a Maserati e a Lancia. 



A fábrica, em seus primeiros tempos, dedicou-se a produção de automóveis, veículos industriais e agrícolas. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) chegou a fabricar ambulâncias, metralhadoras e motores para submarinos. Mais tarde, produziu motores para aviões (como o modelo acima, conservado no Museu Aeroespacial de Washington). Foi pioneira na fabricação de automóveis na antiga União Soviética, utilizando a marca Lada, cujos modelos chegaram a ser vendidos no Brasil no início da década de 1990. 
Por meio de suas subsidiárias, o grupo FIAT atua em 61 países, entre eles o Brasil, onde ganhou prestígio com seus automóveis populares e médios. 



Bem, e o papa Pio XI (imagem acima)? Ambrogio Damiano Achille Ratti, seu verdadeiro nome, nasceu em 1857 na localidade de Decio, na antiga província de Milão. Seu pontificado durou de 1922 até a sua morte, em 1939. O fato mais importante de seu pontificado, sem dúvida, foi o Tratado de Latrão (1929). Por meio deste, a Igreja renunciou aos seus antigos territórios (os chamados Estados Papais) que haviam sido incorporados à Itália após a unificação política e territorial concluída em 1870 e reconheceu oficialmente o Reino Italiano (na época do Tratado, a Itália era uma monarquia parlamentar, tendo Mussolini como primeiro-ministro). 



Por sua vez, o governo italiano, comandado pelo ditador fascista Benito Mussolini (imagem acima, da década de 1930), reconheceu a soberania do papa sobre a área do Vaticano, situada dentro de Roma. Portanto, o papa tornava-se um chefe de Estado, comandando um pequeno território soberano na capital italiana. Estava resolvida a chamada "Questão Romana". 
O acordo foi útil ao regime fascista, pois depois de estabelecer o controle sobre as instituições italianas, faltava apenas o reconhecimento da Igreja Católica. O Tratado de Latrão permitiu isso, tanto que, em 1929, um plebiscito deu ao regime de Mussolini mais de 90% dos votos e o clero católico teve um papel importante nesse resultado. O retrato de Mussolini sempre aparecia ao lado do papa e do rei da Itália nas repartições públicas. Ao mesmo tempo, o acordo eliminava o caráter laico das instituições nacionais, estabelecendo o catolicismo como a única religião do Estado italiano e tornando obrigatório o ensino religioso nas escolas. 
Contudo, em várias encíclicas (documentos papais) publicadas nos anos seguintes, o papa condenou o fascismo e o nazismo, embora na fase final de seu pontificado. 
Pio XI também reforçou o conteúdo da encíclica "Rerum Novarum" (1891) do papa Leão XIII, condenando o comunismo, o socialismo e a luta de classes, reafirmando a necessidade de uma maior justiça social e o controle do Estado para evitar os excessos da economia de livre mercado e do capitalismo. Portanto, deste ponto de vista, era estranho que a Santa Sé permitisse a palavra do papa em uma propaganda de automóveis. De qualquer forma, foi desta maneira que a frase papal apareceu no anúncio mais acima, publicado no jornal "O Estado de São Paulo" de 22.06.1929, poucos meses antes da quebra da Bolsa de Nova Iorque. 

Crédito das imagens:
papa Pio XI:
http://summorumpontificumslz.blogspot.com.br/2012/10/quas-primas-enciclica-do-papa-xi-sobre.html
Mussolini: The Pictorial History of World War II. Charles Messenger. JG Press.
Avião italiano da II Guerra: acervo do autor.

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